sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

A mensageira da morte.



Ela andava perdida, como se não fizesse parte do mundo que a concebeu.
Angelina era um ser entre tantos outros, mas que desde muito pequena teve um sentido apurado para a morte. Conversava frequentemente com as flores, e para quem não acredita, elas lhe contavam os mais temerosos segredos da terra. Angelina teve seu primeiro encontro com a morte aos sete anos de idade, quando viu uma flor lilás diferente que lhe prendeu a atenção. Aproximou-se, ficou na sua frente e ali ela permaneceu longos minutos em silêncio, logo depois foi ter com sua vó.
Vovó! Pede pra tia Ana não sair de casa hoje, eu a vi morrendo, uma coisa estranha veio e disse que era morte, então eu pude vê-la morrer.
Acalme-se querida! Foi só um pressentimento bobo de criança, tia Ana já é adulta sabe se cuidar sozinha.
Não Vovó não, eu não sei explicar, mas acreditar em mim!
Não foi dado ouvidos, e sua tia Ana faleceu minutos após ser dado o aviso, num acidente trágico ainda na esquina de sua avó. Mas para dona Holanda a avó de Angelina o acontecido em nada tinha haver com o pressentimento da menina, fora uma simples coincidência, mas crianças têm dessas coisas mesmo.
E assim a menina continuava a ter encontro com a morte as escondidas, ela encontrava a morte quando chegava perto de alguma flor, sentia as dores de um mundo perdido, comtemplava de forma pavorosa a morte de muitos, que mesmo a distancia estavam diante de seus olhos.
Certa vez ela e sua família estavam a caminho de uma cidade do interior, ela estava radiante e os pais também, mas com um mal estar a menina pediu para que os pais parassem o carro, precisava fazer uma necessidade fisiológica, assim que o carro parou no acostamento ela foi em direção a um cantinho onde ninguém pudesse vê-la, mas na sua frente ironicamente estava uma florzinha do campo, fingindo estar fazendo as necessidades a menina permaneceu na frente daquela flor chorando muito . A morte viera outra vez lhe dar uma noticia desagradável.
Assim que entrou no carro pediu para que os pais voltassem para casa, ou mudassem de direção, tentou lembra-los da morte da Tia Ana, mas assim como em tal acontecimento não foi dado ouvidos á ela. E então Angelina teve que contemplar a morte sentada ao seu lado, através de olhares tentou manter um dialogo com ela, pedido para que a levasse, mas deixasse seus pais, ela não suportaria se eles partissem. A tentativa foi fracassada.
Minutos depois ela viu seu pai perder a direção, e o carro onde estavam caiu na ribanceira, ainda teve o desgosto de ver a morte os empurrando enquanto eles giravam até caírem no abismo.
Assim que o carro parou de girar, ela pode tocar o rosto do pai que estava desfigurado por um caco de vidro que tinha lhe atingido, a sua mãe mesmo estando ensanguentada parecia dormir, Angelina os beijou muito pela ultima vez, enquanto isso a morte se fazia generosa com um olhar de tristeza, mas logo depois fugiu covardemente carregando no colo a alma de seus pais, Angelina os viu partindo em direção ao nada.
Dessa vez sua vó não a poupou, acreditando que a menina foi de alguma forma a responsável pela morte de sua filha e de seu genro, para ela não havia outra explicação para o acontecido, a menina não tinha sofrido nem sequer um arranhão enquanto que os outros estavam mortos, e com isso a menina já tinha destino certo, um orfanato!
Ainda com dor pelo luto, arrumou as roupinhas de Angelina, e deixou tudo certo para que assim que acabasse o velório a menina fosse embora com uma assistente social.
Na sala de velório a menina foi tida com fria por não derramar sequer uma lágrima, mas ninguém ali era capaz de entender o que sentia a não ser a morte que esteve presente o tempo todo na sua frente, Angelina estava sentada no entre os caixões dos pais, e sempre observando sua companheira indesejada, e sendo observada por todos os outros presentes, que estavam inconformados com o fato da menina estar intacta após um acidente tão grave.
Ela sabia que dentro dos caixões continha somente a matéria a alma de seus pais já não estava mais lá.
Assim que o dia amanheceu os caixões foram fechados e levados em direção ao cemitério, Angelina esquivava-se de todos que dela tentavam se aproximar, preferia naquele momento estar acompanhada apenas da matéria de seus pais pela ultima vez, mas a morte lhe reservou uma surpresa, quando estavam no corredor do cemitério, seus pais apareceram puxados pela morte um de cada lado bem na sua frente, a menina derramou lágrimas pela primeira vez saiu correndo e abraçou os pais caindo no chão bem em frente aos dois caixões, ninguém entendeu o porquê daquela cena, a menina jogara-se no chão feito uma louca. Alguém a levantou e quando ela olhou pra cima, a morte já estava sozinha outra vez.
E foi assim acompanhada da morte que a menina jogou os últimos punhados de terra no tumulo dos pais. Quando todos saíram do cemitério sua vó a entregou para a assistente, que estava a sua espera, sem entender por que a menina correndo em direção a dona Holanda e lhe roubou um abraço pelas costas, foi chutada como um cachorrinho e como tal foi acolhida no carro, levando a morte do seu lado.
Assim que chegou a frente ao orfanato recusou-se a entrar, tentaram puxá-la pelo braço, mas ela conseguiu fugir e assim que estava na esquina viu alguém morrendo a morte estava segurando o jovem pelas costas, mas virou-se para ela e sorriu. Após isto a menina voltou correndo de volta ao orfanato.
Mas a partir deste dia a menina transformou-se, falava cada vez menos com as pessoas, mas matinha contato direto com a morte que lhe roubou as noites. A menina passava as noites acordada e durante o dia dormia entre as flores, com quem conversava diariamente.
Em um dia nublado ela se desfez da rotina e deixou de ir ao jardim e foi em direção a cozinha, antes de chegar lá viu a morte fazer zig e zag por entre os corredores. Ao chegar na porta ficou observando a cozinheira durante um tempo e assim que ela prestou a atenção a menina perguntou se ela tinha filhos, a cozinheira respondeu que sim! Então Angelina pediu a ela para que não deixasse o menino sair de casa naquele dia, após ter dito isso foi para o quarto.
Mesmo a cozinheira tendo achado estranho a atitude da menina ligou para o filho e pediu para que ele não fosse jogar futebol naquela tarde. Enquanto Angelina estava no quarto pode ver quando a morte veio furiosa em sua direção, ela esquivou-se e cobriu a cabeça em silêncio, mas com a respiração ofegante, logo a assistente social entrou no quarto e foi lhe acalmar, nos quatro dias que se sucederam a morte não foi mais lhe fazer visitas.
Angelina teve uma noite tranquila naquele dia, e quando amanheceu a cozinheira veio chorando e lhe abraçou, e contou que o carro onde seu filho poderia estar capotou e todos os ocupantes faleceram, seu filho seria uma mais uma vitima se a menina não estivesse lhe alertado. Ela só podia ser um anjo!
Depois que seus pais morreram Angelina nunca mais tinha recebido um carinho fraternal, entregou-se ao colo da cozinheira e a partir deste dia começou a fazer visitas frequentes a cozinha.
Mas em dia de bastante sol, a menina resolveu ir ao jardim, teve um pesadelo a noite e precisava ver as flores, foi quando ela levou um susto, viu a morte em cima do telhado do orfanato, saiu correndo foi em direção a cozinha e sem dizer uma palavra sequer abraçou a cozinheira desatando a chorar, para acolhê-la a cozinheira esqueceu o bujão de gás ligado, logo ele que estava do lado de fora explodiu, começando o incêndio, todos saíram correndo a cozinheira tentou puxar Angelina, mas ela recusou-se a ir porem gritava muito para que a cozinheira fosse, pedia para que todos corressem, ela teria que ficar.
Nesse instante viu os pais virem em sua direção em meio às labaredas. Sentiu a morte lhe abraçando, sabia que devia entregar-se, só assim deixaria de ser perseguida, entregando-se a morte salvaria a vida das almas inocentes do orfanato.
A morte tem enigmas!
Angelina morreu em meio às chamas, mas seu corpo permaneceu intacto como de uma boneca de porcelana, um enigma para a ciência tentar desvendar!











Rute Oliveira.
14 de fevereiro de 2011.

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Não sigo rótulos e não tenho clichês, sou menina meio moleca, forte, sarcástica e com um lado meio poeta.