Dona Ofray.
Vou á São Paulo com frêquencia, sempre a negócios. E desta vez fui a capital no sábado, ás vésperas da parada gay, eu sabia que não seria fácil cruzar a cidade, mas, eu tinha que resolver negócios na segunda, então naquele momento cogita outro dia seria impossivel.
Eu também pensei em participar do movimento seria minha estréia nesse tipo de movimento, cheguei no hotel descansei e no outro dia cedo já me arrumei para sair pela Paulista.
Tinha muita gente, eu me senti meio perdida em meio a multidão, quando uma pessoa me chamou a atenção. Observei com cuidado, para não me equivocar. Não acreditei muito em meus olhos, mas era ela.
Era a velhinha motorista!
Não sei naquele momento ela lembrou de mim, só sei que começou a rir enquanto eu a encarava seriamente. Fui ter com ela, para tirar satisfação sobre o episódio passado em que ela deu um mau exemplo na rodovia.
Gritei mas de nada adiantou, me aproximei e a peguei pelo braço, logo percebi que ela tinha duas tatuagens bem coloridas, pasmei!
Nesse momento ela saiu pulando no meio da multidão, logo a avistei com um copo de bebida na mão, não podia ser alcoólica ela tinha idade para estar tomando remédio.
Fui mais uma vez tentar ter com ela, eu já estava muito cansada de persegui-la, quando enfim ela parou em um bar, para comprar cerveja, pensei “o mundo ta perdido", mas fui ter com ela.
Olá.
Olá queridinha, como vai? Quer uma cerveja pra refrescar?
Não, não, obrigada!
Senhora! Desculpe o incomodo, mas posso lhe fazer uma pergunta?
Claro! Mas senhora ta no céu, florzinha.
Sim sim, claro!
Quantos anos a senho... Digo, você tem?
Que lhe importa benzinho o dia em que eu nasci? O dia em que renasci foi em 21 de dezembro de 85, consegue calcular minha idade não é?
Sim sim, claro!
Aquele ali é meu filhote.
Levei mais um susto, e ela cochichou no meu ouvido.
Na verdade ele é uma mocinha, mas fala baixo ele pode ficar deprimido.
Sim sim, claro!
Você tem belas tatuagens, disse a ela.
Ah! Você ainda não viu as outras, e me mostrou a tatuagem enorme que tinha nas costas e ainda a que tinha feito recentemente na panturrilha.
Meu DEUS que susto, digo... Que belas, mui belas.
Queridinha o papo esta bom, mas tenho que ir pular mais um pouco por que a noite vou cair na balada, quer ir conosco?
Sim sim, claro!
Seu filho ou filha veio em nossa direção, me comprimentou.
Aí dei um jeito e perguntei baixinho, sua mãe me chamou pra ir a balada, mas isso não é perigoso pra idade dela?
Que é isso florzinha, ela ta acostumada, na verdade ela é minha mãe dois, já que minha mãe numero um, não aceitou minha opção, minha vó achou o máximo e caímos no mundo entende?
Sim sim, claro!
Eu praticamente só esboçava essa reação de espanto, sim sim claro!
O que vocês dois estão conversando meus anjinhos?
Sobre a balada mamãe.
Ah, e decidiram algum lugar bacana para irmos?~
Não! O que sugere mamãe?
Um barzinho alternativo.
Adorooooroo mamãe, boa pedida.
Sim sim, claro eu topo!
Estou hospedada em um hotel e vocês são daqui mesmo?
Não, não interior.
Velhinha safada, não me reconheceu.
E voltam como para o interior?
Carro né, florzinha!
Sim sim claro.
Como a senho... Você chama.
Ofray... Como? Ofray!
Ah sim sim, claro Ofray!
Prazer Fabiana.
Fui embora pensando (À noite pego essa velhinha) Ah se pego!
Combinamos de nos encontrar as 20:00 e lá fui eu. Mas ao chegar no barzinho combinado não tinha ninguém, eu me atrasei de propósito, mas dona Ofray nem tinha chegado ainda.
Pra falar bem a verdade nem gosto muito de cerveja, mas como vi que ela gostava pedi uma trincando de gelada, para esperá-la, quando avistei um lindo rapaz, aparência jovial vinha em minha direção. Pensei Oh belezinha, assim que eu gosto.
Alisei os cabelos e o flertei como quem nada quer, e ele se assentou ao meu lado, e foi logo perguntando Fabiana?
Oh! Sim sim, eu mesma, pois não?
A Ofray mandou lhe avisar que teve que se atrasar um pouquinho, por conta de Katy, coisa de mulher você deve entender por que eu memo num entendo mais a Ofray e a Katy são cheia dessas frescuras nem recramo senão já viu né?
Ah sim! Mas ela é sua mãe?
Oh moça você acha memo que eu vô chama minha mãe pelo nome. Ofray é minha namorada.
Ah sim sim, claro! Namorada, como eu não pensei nisso.
Até tentei manter um diálogo, mas coitado era BB, não porque era jovem e sim, por ser bonito e burro mesmo, mas enfim o que importa é a felicidade dane-se se ele tinha vinte e cinco anos (25) parecia feliz.
Depois de passados trinta minutos eis que dona Ofray chega, toda sorridente.
Oi queridinha! Demorei muito?
Não, imagina, sente-se, por favor, Ofray.
Oi meu amor, disse ao moço, e lascou-lhe um beijo, beijo de língua na minha frente, normal né, ele tinha só uns 75 ou 80 anos imagino eu!
Logo pediu...
Uma loira gelada, por favor!
Tentei manter outro dialogo com ela.
Dona Ofray.
Queridinha já disse, senhora não pq ela ta no céu, e dona também não porque eu não mando em você.
Desculpe-me, mas o que você faz da vida.
Olha meu benzinho, não tenho vergonha de dizer sou aposentada, prestei serviços ao governo e agora ele me paga e eu me divirto há!
Tive cinco filhos, casaram fiquei sozinha? Não, Katy veio morar comigo, logo percebi que era diferente, e a transformei em uma bonequinha pra me fazer companhia e olha só que linda mocinha ela deu!
O quê? Eu não tava ouvindo aquilo, não era possível e ela continuou a falar.
Pois é queridinha, a transformei nessa gatinha né meu amor, Katy se encolheu como quem concorda.
Ela é uma graça mesmo!
E a senhora, digo você, tem um nome muito chique, Ofray gostei do nome!
Jorginho tape os ouvidos agora!
Sim, vou tapar!
Disse o tapado, e tapou mesmo!
Na verdade meu nome é Ofrázia, o nome ridículo, mas desde que vi aquela tal de Opray da televisão dos gringos me inspirei agora só me apresento como Ofray, até tentei mudar, mas no cartório ninguém deixou, a ignorância brasileira viu, ninguém tem classe.
Lá no interior tenho uma fazenda, fui contratar uns peões, conheci Jorginho que se apaixonou por mim, dei uma chance ao rapaz, faze o que né todo mundo tem direito a felicidade, mas ele é um ciúme só.
Eu me dava ao direito de ficar boquiaberta.
Minhas amigas e meus filhos nem gostam dele, eu acho ótimo, embora não tenha ciúmes também não tenho concorrência.
Fiz umas tatus, coloquei pircieng, fiquei sabendo que colocar lá, sabe lá, tava na moda e coloquei, e ele gosta né Jorginho, Jorginho pode destapar os ouvidos agora.
Jorginho balançava a cabeça e ria.
Risos da minha e da parte dela também.
Poxa Ofray, você é pra frente né, gostei disso, mas não sei se você lembra, mas á alguns meses atrás te encontrei na rodovia, e você quase quebrou meu dente com uma laranja lembra?
Ela riu tanto que fiquei sem graça e sem reação.
Você comprou a carta florzinha, comprou?
Katy meu amor, Katylaine preste atenção mamãe esta falando com você!
Sim sim, mamãe!
Ela é a barbeira da rodovia lembra?
Katy riu exageradamente e perguntou.
É você, ah comprou a carta?
Olha, minha senhora! Eu desisto, esperava que no mínimo tivesse se arrependido e, no entanto se diverte com a situação, com licença!
Oh meu amorzinho acalme-se, sente-se.
Jorginho só ria, coitado!
Você ficou com medo foi?
Não foi medo, foi preocupação, estávamos na rodovia.
Ah eu tenho experiência, já você parece ter comprado a carta.Mas queridinha isso é passado, esqueça e jogue-se na vida.
Vamos para a balada, topa?
Não, obrigado! Estou cansada vou para o hotel!
E energético serve pra que?
Pela primeira vez vi aquilo como um desafio se ela podia por que eu não! Tomei energético e fui com eles.
Oh que arrependimento, ela estava com as costas de fora, salto alto meia calça e shortinho, Katy estava idêntica.
Dentro da balada as duas dançavam e Jorginho segurava, ou pelo menos tentava.
Beijou uns três garotões e Jorginho ria.
Eu onde estava? Sentada em uma poltrona observando, morrendo de inveja, mas eu tava na balada, as quatro da manhã, ela resolveu sair.
Eu ia junto quando avistei os três, Katy, Jorginho e Ofray acompanhado de amigos, o difícil é descrever quem são, um monte de jovens bêbados, homens e mulheres malucos, e dona Ofray junto!
Amanhã ligo pra saber como estão.
Mas pensei, pra quem está na terceira idade, ela dá um show, ou melhor, um espetáculo!
Opray que se cuide por que Ofray vem aí.
Rute Oliveira.
Assis 03 de janeiro 2011